Em mais um dia monótono da minha vida enquanto voltava do técnico resolvi comprar um sorvete, visto que meu ônibus só chegaria em 20 minutos e eu não tinha nada melhor pra fazer. Sentei-me em uma cadeira e enquanto saboreava o que talvez seria minha comida favorita comecei a observar o comportamento das pessoas que estavam a minha volta.
Era uma noite de sexta-feira, por volta das 23 horas, a temperatura era de agradáveis 17 graus. O que eu via eram vários grupos de jovens com suas melhores roupas voltando de bebedeiras por ai. Alguns deles passavam mal dentro do terminal de ônibus, mal conseguindo andar. Aquela cena era tão recorrente que não me soava nova.
Resolvi então me focar no sorvete. Me sentia levemente melancólica naquela noite, do contrário eu não teria comprado um sorvete, sempre uso esse tipo de coisa como uma frustrada tentativa de melhorar meu humor em meio ao meu cotidiano caótico. Me perguntava qual era a razão para tanta tristeza repentina.
Em menos de uma fração de segundo me veio que a resposta pra tudo isso vinha das minhas incertezas. Já não sabia mais quem era, o que deveria fazer, porque estava ali e por que diabos tudo aquilo tinha de acontecer daquela forma. Na verdade ainda estou com as mesmas dúvidas, porém prefiro ignorar.
Não amo, não vivo, não tenho motivo de felicidade e vivo no meio do caos. Já estou me acostumando com isso, mas sei que uma hora ou outra, de repente ficarei furiosa e irei explodir, largando tudo isso e começando tudo de novo. Talvez isso leve mais ou menos tempo do que leva um sorvete para derreter, ou para alguém alcoolizado e fora de seu equilíbrio comum cair. Ou até mesmo para o ônibus chegar naquela fria noite de sexta-feira gasta só, imersa nos seus próprios pensamentos.